segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Dica de Vídeo: Documentário: Muito Além do Cidadão Kane

Cidadão Kane é, resumidamente, um filme de Orson Welles, que conta a história do personagem Charles Foster Kane, um menino pobre que acaba se tornando um dos homens mais ricos do mundo.

O Documentário que sugerimos ser conhecido, chamado Muito Além do Cidadão Kane, trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão com o cenário político brasileiro. O próprio filme, realizado por Simon Hartog para o canal 4 da BBC de Londres, teve sua execução proibida no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial. À época, a Rede Globo tentou vetar a circulação da fita em outros países, mas não conseguiu. E foi esse fracasso que permitiu que uma minoria seleta da população brasileira conseguisse ver o que o resto do país não viu: a face da mídia do Brasil que não vira atração de TV.

Atualmente existem poucas cópias em circulação no país, mas foi amplamente visto graças à popularização da internet (pode ser visto, por exemplo, no Youtube)

Ao longo de quase duas horas, são mostrados com uma narração criticamente irônica, fragmentos de uma história de manipulação de resultados (como os cortes efetuados na edição do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989); de censura a artistas (como Chico Buarque que por muitos anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora); de criação de mitos culturalmente questionáveis (como é o caso de Xuxa) e de veiculação de notícias frívolas e tolices em programas de auditório.

Os depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, Fausto Neto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira se intercalam com as imagens dos acordos firmados por Marinho com representantes do alto escalão da política nacional, com trechos dos programas da emissora na época e com a situação de miserabilidade do Brasil.

Em resumo, o documentário é dividido em quatro partes:

Na primeira parte do filme é mostrada a relação entre a Rede Globo de Televisão e o regime militar (1964-1985).

A segunda parte apresenta o acordo firmado entre a Rede Globo e o Grupo Time-Life (empresa estadunidense de comunicação).

Na terceira parte, é mostrado um pouco do poder do proprietário da Rede Globo, o então vivo Roberto Marinho. Por outro lado, mostra também, o "apoio" da Rede Globo à redemocratização do país, na figura do candidato à presidência da República Tancredo Neves.

Na quarta parte, talvez a mais importante e reveladora do filme, mostram-se os envolvimentos e os "mecanismos manipulativos" utilizados pelas Organizações Globo em suas parcerias com o poder em Brasília (os produtores do filme arrolam supostas fraudes em eleições, supostos assassinatos encomendados, etc.).

Infelizmente, a mim parece que não é uma coincidência o fato de que, na última pesquisa da organização Repórteres Sem Fronteiras, o Brasil ficou 84º lugar (de 169) no ranking das nações com maior liberdade de imprensa.

Vale a pena ver. Ao menos para se ver a Globo sob outra perspectiva. Censurá-la ou defendê-la, depois, é com você!

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